Plantações morreram após contato com material. Rejeitos do rompimento em Brumadinho caíram no Rio Paraopeba, que tem água imprópria para uso desde ent

Após enchente, lama da Vale atinge plantações e deixa agricultores apreensivos na Grande BH

“Onde a lama tocou, morreu”. Essa foi a frase que o agricultor Mauro Alves Ferreira disse ao olhar para os 15 hectares de milho que foram encobertos pela água do Rio Paraopeba, misturada com a lama da Vale de Brumadinho.

O rio corta a propriedade dele e na forte chuva que caiu em janeiro, a água transbordou do leito. “Isso já aconteceu antes. Das outras vezes era só deixar a água baixar e esperar a hora de colher. Agora veio uma lama com resíduo, que secou a plantação”, explica o agricultor que há 40 anos cultiva lavouras na região.

Em outra área, preparada para receber feijão, só sobrou uma lama molenga. Mauro não sabe quando vai poder reutilizar o solo. Ele já tinha comprado as sementes, adubo e remédio para a plantação. O medo é que a lama esteja contaminada.

Em janeiro do ano passado a barragem da Vale, em Córrego do Feijão, se rompeu causando 259 mortes, 11 pessoas continuam desaparecidas. O Rio Paraopeba também foi atingido. Rejeitos de minério caíram no leito, o que fez o Governo do Estado recomendar que as pessoas não utilizassem a água bruta do Paraopeba para quaisquer fins. A medida está em vigor de Brumadinho a Pompéu. Ou seja, a água não pode ser dada para animais e a também não pode ser usada na irrigação.

Placas indicam que água do Rio Paraopeba, atingido por lama da Vale, não devem ser usada ao lonngo do leito — Foto: Danilo Girundi/TV GloboPlacas indicam que água do Rio Paraopeba, atingido por lama da Vale, não devem ser usada ao lonngo do leito — Foto: Danilo Girundi/TV Globo

Placas indicam que água do Rio Paraopeba, atingido por lama da Vale, não devem ser usada ao lonngo do leito — Foto:

Na época, vários produtores tiveram problemas, pois dependiam do Paraopeba para nutrir a terra. A Vale teve que cercar as margens do rio que cortavam propriedades em Esmeraldas.

Donaldo José de Almeida também teve problemas na fazenda. Quarenta e dois hectares de milho e sorgo foram cobertos pela lama. Dias depois do alagamento ainda era possível ver lama e água no meio da plantação. O agricultor tem dúvidas sobre o que fazer com o milho que seria usado para alimentar o gado leiteiro. “Eu não tenho coragem de vender, de dar de comer para o gado. Vai que está contaminado”, disse Donaldo.

Na fazenda vizinha quem está preocupado é o agrônomo e pecuarista Caio Márcio Feria de Oliveira. A propriedade tem 256 hectares e 500 cabeças de gado de corte. Quando o rio transbordou ele chamou a Vale para avaliar os estragos e, segundo ele, dois técnicos foram ao local e dividiram a área em três partes: 100 hectares foram alagados e cobertos com a lama. Outros 120 hectares estão em uma zona de uso restrito, onde o gado poderia chegar ao local alagado e ter contato com a lama. Só 36 hectares estariam livres para uso irrestrito. “Eles colocaram uma cerca lá para o gado não chegar no rio. Agora foi o rio que chegou ao gado. Se existe uma interdição, é porque tinha metal pesado no fundo. Com a chuva, o metal foi sacudido, como em um liquidificador, e tudo foi trazido para nossas terras com o transbordamento. Não sei o que fazer”, disse o agrônomo.

Agricultor perde plantação de milho após enchente levar lama da Vale para terreno em Esmeraldas, na Grande BH — Foto: Danilo Girundi/TV GloboAgricultor perde plantação de milho após enchente levar lama da Vale para terreno em Esmeraldas, na Grande BH — Foto: Danilo Girundi/TV Globo

Agricultor perde plantação de milho após enchente levar lama da Vale para terreno em Esmeraldas, na Grande BH 

Todos os agricultores e pecuaristas ouvidos pela reportagem reclamaram que a Vale não diz se a lama é contaminada. Que não informou se eles podem voltar a plantar no local. Todos disseram que ligaram para a Vale para buscar informações.

As Secretarias de Saúde e de Agricultura Pecuária e Abastecimento disseram em nota que os agricultores não devem usar a plantação tocada pela lama e que a recomendação de não usar a água bruta do Rio Paraopeba segue vigente.

A Vale disse que oferece suporte aos agricultores que vivem próximo do Rio Paraopeba desde janeiro do ano passado, e que o rejeito de minério não é considerado tóxico. A mineradora também informou que contratou um estudo para checar se houve algum impacto na água do Rio Paraopeba por conta das fortes chuvas e que o resultado do estudo vai orientar o atendimento às comunidades ribeirinhas.